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Super Mulheres da Comunidade Judaica do Brasil

“Ser mulher”, diz Débora “é ter olhar para os fatos através de uma lente mais terna porém guerreira. É se deixar seduzir pelas paixões que a vida lhe oferece e ir em busca de mais respostas”.

Apaixonada por desafios e transformação social, ela fundou o Projeto Irmãos. Grupo que visa compartilhar experiências vividas entre irmãos de pessoas com Síndrome de Down. Formada em Propaganda e Marketing e pós graduada em Gestão de Mercados com ênfase em Inteligência de Mercado, ela coordenadora atualmente o marketing na UNIBES (União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social- ONG da Comunidade Judaica de São Paulo, de grande porte, que atua na promoção humana através da cultura e apoio à saúde e educação.

Mas, isso não é tudo! A Débora já foi voluntária da Juventude Judaica Organizada, cujo foco era esclarecer informações sobre político-Israelenses. Participou do Hassefá Ba'Aretz, criado pela Federação Israelita de São Paulo, que reforça a ligação político-social entre os líderes comunitários internacionais e brasileiros. Atua como voluntária no grupo de jovens Conecta, da Congregação Beth El, que visa aproximar jovens através da troca de experiência profissionais, culturais e religiosas. Também faz parte do IOZMA, grupo de jovens líderes comunitários da América Latina que visa uma conexão social comunitária na comunidade judaica (projeto apoiado pela Agência Judaica). 

Na sua posição atual, como está fazendo uma mudança na comunidade?

Meu ambiente de trabalho contribui ativamente para promoção e desenvolvimento social. Através do marketing e comunicação é possível contar aos outros o belo trabalho que a Unibes vem fazendo a fim de arrecadar recursos para expansão dos projetos socioculturais oferecidos à comunidade judaica e maior.

Paralelamente, aproveito o conhecimento e relacionamento que venho adquirindo para formar a corrente do bem e utilizar em outros meios que atuo dentro e fora da comunidade judaica.

Como sabe de que seu trabalho para a comunidade está mudando a você?

Sempre gostei dos ensinamentos do judaísmo. Muito mais que uma religião, uma forma de ver o mundo com respeito, dignidade e força para sempre lutar por uma identidade, algo que se acredita.

Aos 24 anos, fazia parte da JJO (Juventude Judaica Organizada), grupo voltado para prática de Hasbará. Nosso objetivo era mais do que aprender sobre a sociedade e político-israelense, era mostrar ao mundo que Israel era um país moderno, próspero, com muito mais pontos positivos do que a mídia retratava. Isso me trouxe um grande aprendizado. Conheci pessoas interessantes e aprendi a importância de saber argumentar. O maior legado que a JJO me deixou, foi minha segunda viagem à Israel, após o Taglit, com o Hassefa B’Aretz, junto com as lideranças judaicas. Na época o presidente não pôde ir e me indicou. Fiz um bom networking e conheci um lado totalmente novo de Israel, que expandiu minha forma de pensar e acabou  e me levou a trabalhar na Unibes.

Comecei a, frequentar cursos e ler mais sobre cultura judaica em busca da minha identidade.  Foi quando fui chamada para fazer parte do IOZMA, um curso Massorti que une jovens da América Latina em prol da troca de experiências a fim de dar continuidade aos costumes judaicos, em um cenário em que têm se perdido cada vez mais rápido.

Conheci então os Jovens Beth El, onde estou há um ano e meio, ampliando meu lobby com profissionais renomados, trocando experiências e subindo cada vez mais um degrau no campo intelectual, em busca da minha real identidade judaica.

Minha próxima empreitada será a Marcha da Vida, onde tenho uma série de planos profissionais e pessoais.

Até que ponto, ou de que forma, sendo uma mulher, e uma mulher judia, influencia a forma que você está fazendo o seu trabalho?
Acredito que a mulher tem mais facilidade de organizar diversos projetos ao mesmo tempo. Acho que podemos alcançar tudo que almejamos quando nos tornamos amigos do tempo. Como dizia Golda Meir "Sou eu quem tem que comandar o relógio e não me deixar ser comandada por ele".

Ser mulher é ter olhar para os fatos através de uma lente mais terna porém guerreira. É se deixar seduzir pelas paixões que a vida lhe oferece e ir em busca de mais respostas.

Acho que a espiritualidade feminina abre portas. É parte de mim que se explica quando estou dentro da minha essência. Débora, é a única mulher citada na Torah a ter o status de juíza. Foi profetiza, quarta juíza em Israel (Shoftim) e líder do povo judeu contra o domínio de Canaã por volta do século XII a.C.
Dois exemplos concretos da facilidade que o senso feminino traz, apareceram quando fui voluntária no Grupo Chaverim e muitos chanichim se aproximavam mais facilmente. E ao fundar o Projeto Irmãos, quando soube usar a perspicácia e inteligência feminina para envolver os participantes em meus sentimentos que originaram o grupo.

Do seu ponto de vista, vivendo no Brasil, quais são as suas observações sobre o status das mulheres no seu país? O que você faria para melhorar esse status se pudesse?

A mulher hoje tem assumido um papel de destaque na sociedade brasileira. A começar pela presidente, que independente da minha posição política, é uma mulher. Acho que estamos galgando progressos nas empresas, na religião, hoje temos sinagogas com representantes femininas, o que há muito era considerado proibido. Temos grandes empreendedoras sociais como Mara Mourão, também diretora de cinema; artistas como Fernanda Monte Negro, jogadoras de futebol, como a Marta, estilistas como Natalie Klein, chefs de cozinha como Helena Rizzo, entre inúmeras outras mulheres inspiradoras.

Acho sim, que o machismo ainda é muito presente na sociedade brasileira. Há muito a se evoluir m relação ao senso de inferioridade, abuso sexual, discriminação, principalmente considerando que estamos em um país de terceiro mundo. Mas diz o ditado “por trás de um grande homem, sempre há uma grande mulher” ou “o homem pode ser a cabeça, mas a mulher é o pescoço”. Acredito que somos capazes de negociar através do amor. Acho que devemos fazer nossa parte como seres transformadores e fazer uso do brilho feminino. Agir com sabedoria, em prol do crescimento, educando nossos filhos dentro da ética, transparência e principalmente sinceridade, num mundo que se mostra cada vez mais avesso a essa “qualidade”, precisamos insistir em usar sempre a verdade.

Existem aqueles que argumentam que, uma vez que existem países liderados por mulheres, e grandes empresas lideradas por mulheres, e tantas mulheres atendidas universidade, etc, não há mais necessidade de ter o Dia Internacional da Mulher. Qual é a sua resposta a isso?
Sempre achei que deveria existir o Dia do Homem, tal qual o da Mulher, da criança, do amigo, etc. Acho que comemorar conquistas é algo independente do sexo. Não acho que por ser mulher devo ter os mesmos deveres que o homem. Meu corpo, mente, fisiologia, são diferentes. Somos ambos seres humanos, mas temos cada qual, nossas qualidades que não deveriam competir entre si, mas serem complementares, somarem.

O que me deixa esperançosa, é saber que em alguns países como a Bélgica, por exemplo, já estão começando a colocar esse conceito em prática. Em Bruxelas, a licença maternidade é de apenas 3 meses, sendo que há outra licença de 4 meses que podem ser tiradas até a criança ter 12 anos. E a de paternidade é de 10 dias com remuneração. Sendo que esta licença deve ser tomada no prazo de 30 dias a contar do dia do nascimento e podem ser distribuídos ao longo do período. Já no Brasil até que sejam aprovados novos projetos, a licença paternidade é de apenas 5 dias e de maternidade de até 6 meses corridos, dependendo da ocupação . Tudo para evitar queda produção nas empresas. Dessa forma, eles acabam muitas vezes sendo privilegiados frente a uma nova contratação. E onde está a visão 360º da igualdade de direitos?

Caso você fosse a Primeira Ministra de Israelquais seriam os passos que você daría para promover o status da mulher? Qual sería seus planos? Por exemplo – no Canadá o Primeiro Ministro decidiu estabelecer um governo igualitario 50% homens e 50% mulheres, ou definir que as pessoas sejam promovidas por suas capacidades e não pelo genero sexual

“Bendito és Tu, A-do-nai, nosso D-us, Rei do Universo, que não me fez mulher.” trecho faz parte da benção matinal judaica, que é recitada todas as manhãs por judeus, enquanto judias terminam a reza substituindo a parte destacada por “que me fez conforme Sua vontade”.

Após a independência de Israel, logo em 1951 a Knesset promulgou uma lei considerada revolucionária para a sua época – A “Lei de igualdade entre os sexos” que acabava com qualquer norma, regulamento ou lei (inclusive religiosa) que na esfera civil negasse direitos as mulheres pelo fato único de serem do sexo feminino. Tivemos nossa Golda Meir como 1º Ministra, muito antes da Alemanha de Merkel, ou do Brasil de Dilma Roussef. Por outro lado a convivência com o chassidismo, onde a mulher é posta à margem da sociedade, não podendo participar politicamente como as mulheres da sociedade moderna, reflete um contraste grande de exclusão social. Esse ainda mais forte quando comparadas às muçulmanas, que convivem no mesmo espaço, mas são totalmente vetadas de emitir qualquer opinião.

Minha sugestões seriam estabelecer testes de habilidade para avaliação de melhor desempenho da função que será exercida em qualquer meio. Independente do cargo. A pessoa deveria ser contratada conforme o nível de sucesso no resultado que atingiu, seja homem ou mulher.

A outra seria instituir, como matéria obrigatória em todas as escolas infantis e orientação para os pais, sobre igualdade de direitos. Onde seria explicada a história de cada gênero, sem julgamento de valores, abordadas questões biológicas, cerebrais e comportamentais. Acho que isso traria uma noção de que somos todos da mesma espécie, temos sentimentos parecidos e precisamos nos permitir agir livre de preconceitos, mas com conceitos formados para tomar decisões concretas.

Há mais alguma coisa que você gostaria de dizer que não te perguntei?No século XXI deveríamos fazer maior uso dos ideais iluministas, que criaram a idade moderna, a fim de conquistar de fato, a liberdade. A começar pelo povo judeu, que sempre sofreu opressão dos grupos majoritários, devemos ser os primeiros a dar exemplos de princípios da tolerância e da coexistência.

A dança isareli ilustra muito bem isso, combinação de estilos e fontes, que incorpora motivos de danças tradicionais judaicas da diáspora e tradições locais, incluindo a "debka árabe" e elementos de dança que vão do jazz a ritmos latino-americanos, até a cadência típica de vários países mediterrâneos, nunca deixando de evoluir.

09 Mar 2016 / 29 Adar 5776 0
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